UX Writing: Luz, câmera, ação!

Carol Assis Guimarães
4 min readJul 2, 2021

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Os bastidores por trás da escrita.

Interior de um cinema com filas de cadeiras e um telão.
Fonte: banco de imagens Unsplash.

Acredito que a maior parte das pessoas que trabalham com conteúdo, já suaram frio ou entraram em pânico ao ouvir frases como:

“ — Faz o texto ai pra gente rapidinho” ou;

“— Diz ai, como que fica esse texto aqui?”.

Isso porque o processo de escrever consiste 80% em pensar e analisar e apenas 20% em simplesmente escrever, ou nem isso, talvez 10%.

Pense comigo, quando você tem uma entrevista, ou antes de falar com uma pessoa que você gosta e admira, você geralmente se prepara, certo? Pega um bloquinho de papel, app de notas do seu celular ou computador e anota palavras-chaves, ideias, insumos pra você não travar e fugir do seu objetivo inicial.

No writing o processo é o mesmo. Exige muita preparação, criatividade, análise, paciência e empatia.

“ —Ah sim, porque estamos falando de experiência né?”

Sim e não. Não importa onde a comunicação está inserida, seja de forma verbal ou escrita, o cuidado pela pessoa receptora da mensagem sempre deve prevalecer.

Empatia com a plateia

Escrever é se comunicar. Assim como entender o público para o qual escrevemos, seja em uma documentação, interface ou e-mail, quando conversamos com alguém também precisamos adaptar a forma como falamos, de acordo com o perfil da pessoa. Veja a situação que aconteceu comigo:

|👩‍💻 Eu precisei acionar o suporte de uma ferramenta do trabalho pois estávamos com um problema específico;

|💬 Detalhei a situação para a pessoa que me atendeu e ao final da mensagem perguntei “ o problema ficou claro pra você?” e a pessoa respondeu “mais ou menos”;

|🤔 Então, chamei meu colega no chat e perguntei como eu poderia explicar aquela situação de forma técnica, e em 6 palavras ele resumiu o que eu precisava dizer;

|💡 Devolvi a resposta ao suporte e a pessoa disse “ah, agora entendi!”.

Muitas vezes, não é a comunicação que está falha, mas são perfis distintos na conversa, com rotinas e linguagens diferentes e precisamos compreender que isso irá ocorrer com todas as pessoas, em quaisquer situações.

Refinando o roteiro

Projetar seus pensamentos em poucos caracteres em uma rede social, ou escrever um artigo no Medium, é um exercício de escrita muito poderoso que te permite encaixar uma quantidade de conteúdo em um espaço limitado. É por isso que o melhor combustível pra quem escreve, é o descanso.

Trata-se de escrever o que você precisa e cair fora por alguns minutos. Ir tomar um café, olhar pela janela, dar uma volta, é o famoso descansar os olhos. Ao voltar, a visão sobre o que foi escrito será totalmente diferente.

Você filtra palavras, refina sua mensagem e por fim, somente o útil vai prevalecer. Sabe quantas vezes voltei no rascunho desse artigo para publicar com poucos minutos de leitura, verificar se a mensagem passada estava de acordo com o que eu queria, se a linguagem estava neutra, se o tempo verbal estava correto? Inúmeras! Este processo de filtro é perfeitamente normal, e acredite, sempre pode melhorar (ainda mais).

Mensurando possibilidades

A língua portuguesa é desafiadora. Os regionalismos e o passar das gerações trazem cada vez mais a invenção de vários nomes para uma mesma coisa.

Fundo verde com dois elementos que possuem vários nomes. À esquerda, o casaco curto que chamamos de bolero ou jaqueta cropped e à direita, uma tangerina que chamamos de mexerica, bergamota, mimosa ou ponkan.
Dois exemplos que possuem vários nomes: o casaco curto e a tangerina.

Vejamos a nova polêmica da geração que é “cringe” (ou em seu significado: vergonhoso, vergonha alheia). Aquele casaco curto, o bolero, virou jaqueta cropped, pagar boletos está ultrapassado, agora o negócio é pagar contas.

Afinal, quem escolhe o melhor termo a ser usado? O público.

Existem testes de descoberta totalmente voltados para identificar qual linguagem e quais palavras fazem total sentido para a pessoa receptora.

Mas essas descobertas nem sempre são 100% decisórias. Mensurar o contexto em que será inserido importa, e muito! Afinal, o processo criativo que construiu o fluxo do usuário e o cenário em questão podem impactar na criação da mensagem, mover ela para outro local ou simplesmente descartar sua necessidade.

Defendendo a batalha

Grande parte do trabalho de uma pessoa writer consiste em defender o melhor conteúdo, afinal, comunicação é via de mão dupla. Não se trata apenas de encontrar o melhor texto e soltar pro mundo afora. É preciso organizar a casa também, afinal, o que falamos internamente nos times e organizações, reflete externamente. Até mesmo a própria writer pode ter que se adaptar a novos termos pois o que ela usa não é o ideal para o público, e tá tudo bem!

Ter um repertório muito vasto de palavras e ser fera na gramática são itens essenciais mas que não ditam regras. A simplicidade e utilidade precisa ser evidente na mensagem que está sendo passada. Isso é o que define a direção a ser tomada.

Compreendendo o cenário

Por último, mas não menos importante: permitir a mudança e inovação por onde for. Cada empresa ou ferramenta pelo qual passamos precisa de adaptação e um reset na memória. Não se prender ao que já foi visto ou executado anteriormente, pode abrir portas e ideias fora da caixa.

Segmentos, pessoas, públicos, compreensões. Tudo terá seu próprio tom de voz, suas particularidades, por mais parecidos que possam ser.

Escrita é criatividade, senso analítico, racional e emocional também. O passar para o papel ou o ato de digitar, é somente a prática, a execução da cena.

Por isso, toda escrita tem seus bastidores.

Você solicita um texto;

A pessoa writer recebe o roteiro;

As cortinas se fecham. E quando elas abrem novamente, contemple o conteúdo totalmente renovado e prontíssimo para entrar em cena…

Uma magia aconteceu ali. 🎩✨

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Carol Assis Guimarães

My purpose as a designer, is to keep communication simple and provide a better user experience. Content Designer at Pagar.me @ Stone.co 💚